8 de fevereiro de 2014

Autismo em diferentes abordagens

            Aqui no blog, fizemos uma publicação sobre as possíveis causas que podem estar associadas ao autismo. Contudo, ainda hoje parece não haver um consenso em relação aos fatores ligados ao desenvolvimento do transtorno. Até mesmo dentro da própria psicologia, as origens etiológicas do autismo são compreendidas através de diversos olhares. Neste sentido, nessa publicação iremos abordar como o autismo é visto em diferentes abordagens da psicologia.

Teoria Psicanalítica:

De acordo com Bosa e Callias (1999) “a preocupação da maioria dos psicanalistas tem sido mais a de descrever o funcionamento mental, os estados afetivos e o modo como essas crianças se relacionam com as pessoas do que com questões etiológicas” (p.3).
Dentro da abordagem psicanalítica há diferentes postulados e pressupostos que procuram explicar o autismo. Para Melanie Klein, pioneira no tratamento da psicose infantil, “o autismo era explicado em termos de inibição do desenvolvimento, cuja angústia decorria do intenso conflito entre instinto de vida e de morte [...]. O bloqueio da relação com a realidade e do desenvolvimento da fantasia, que culminaria com um déficit na capacidade de simbolizar, seria então, central à síndrome” (BOSA E CALLIAS, 1999, p.4).
Margaret Mahler, psiquiatra e psicanalista americana, também trouxe contribuições para o estudo das psicoses infantis. Segundo Bosa e Calias (1999):

Mahler desenvolveu suas ideias sobre os autismos infantis a partir de sua teoria evolutiva, explicando o autismo como sendo um subgrupo das psicoses infantis e uma regressão ou fixação a uma fase inicial do desenvolvimento de não-diferenciação perceptiva, na qual os sintomas que mais se destacam são as dificuldades em integrar sensações vindas do mundo externo e interno, e em perceber a mãe na qualidade de representante do mundo exterior (p.5).

            Dentro dessa perspectiva, o autismo foi compreendido como uma reação da criança à rejeição materna, uma cisão do ego resultando em uma desorganização dos processos adaptativos e integrativos, uma consequência de uma falta de manifestações espontâneas de sentimentos por parte das mães, uma ausência da fronteira psíquica originada na dificuldade de diferenciar o inanimado e o animado, entro outras (BOSA E CALLIAS, 1999). Assim, nessa perspectiva:

Concebe-se a criança autista como vivendo em um estado mental caracterizado por insuficiente diferenciação entre estímulos vindos de dentro ou de fora do corpo e incapacidade para construir representações emocionais. Dessa forma, todo estímulo (social e não-social) seria experienciado como sendo fragmentado, impedindo a possibilidade de formação de uma experiência contínua, seja quando só ou na presença de outros (BOSA E CALLIAS, 1999, p.4).

Teorias Neuropsicológicas e de Processamento da Informação:

            Hermelin e O’Connor foram os pioneiros (e inspiraram diversos trabalhos) na testagem de como as crianças que possuem autismo processavam informações sensoriais em situações de testes de habilidades motoras e de memória.

Eles concluíram que essas crianças mostravam déficits cognitivos específicos, tais como: problemas na percepção de ordem e significado, os quais não poderiam ser explicados por deficiência mental; dificuldades em usar input sensorial interno para fazer discriminações na ausência de feedback de respostas motoras; e tendência a armazenar a informação visual, utilizando um código visual, enquanto as crianças com desenvolvimento normal usavam códigos verbais e/ou auditivos. Particularmente surpreendentes foram as respostas dessas crianças aos estímulos auditivos - a intensa resposta fisiológica a sons contrastava com a passividade geralmente demonstrada por essas crianças em situações envolvendo tais estímulos (BOSA E CALLIAS, 1999, p.14).

Teoria da Mente:

Uma das propostas de explicação para o autismo é a de que esses indivíduos teriam prejuízos na habilidade de desenvolver uma teoria da mente. “Teoria da mente significa a capacidade para atribuir estados mentais a outras pessoas e predizer o comportamento das mesmas em função destas atribuições” (BOSA E CALLIAS, 1999, p.10).
Essa hipótese que tenta entender o autismo a partir do ponto de vista psicológico foi desenvolvida pelos pesquisadores Uta Frith, do Instituto de Neurociência Cognitiva da Universidade College de Londres, e Simon Baron-Cohen.

Segundo essa tese, a principal anormalidade do autismo é a incapacidade de construir elaborações sobre a mente alheia. Existe no cérebro um circuito neuronal especializado que nos permite pensar sobre nós mesmos e sobre o outro – e assim criar formulações sofisticadas, prevendo o comportamento de seus semelhantes. Essa compreensão oferece respaldo à capacidade de cooperar e aprender com o próximo. Em suma, possibilita a interação social. A maioria das pessoas autistas, no entanto, não compreendem que cada um tem os próprios pensamentos e pontos de vista e um modo único de ser. Consequentemente, elas não entendem crenças, emoções e atitudes alheias (MENTE & CERÉBRO, 2013).

A Teoria Comportamental:

            A teoria comportamental tem como objetivo intervir nos comportamentos disfuncionais, para controla-los e modifica-los ou instalar comportamentos desejados. Duas propostas de tratamento derivadas dessa abordagem, ABA e TEACH (já comentadas aqui no blog), são amplamente usadas no tratamento do autismo. Segundo o blog Psicanálise,autismo e saúde pública (2013), essas propostas terapêuticas tem como objetivo:

a) a promoção de um desenvolvimento normal dos aspectos cognitivo, linguístico e social; b) a promoção da aprendizagem; c) a redução da rigidez e da estereotipia; d) a eliminação dos comportamentos desadaptados inespecíficos; e) o alívio do sofrimento familiar e f) a educação e a conscientização da comunidade para a aceitação do indivíduo.

            Ainda segundo esse blog, essa abordagem propõe um método baseado nas leis que governam o comportamento. Assim, suas propostas

Entendem que os comportamentos são operantes, ou seja, quando um indivíduo se comporta, esse comportamento opera sobre o ambiente, promovendo uma resposta do ambiente que funciona como reforçador positivo ou negativo para esse comportamento. Assim, os reforçadores ocupam um lugar primordial nesse tipo de atendimento (PSICANÁLISE, AUTISMO E SAÚDE PÚBLICA, 2013).

A terapia comportamental com pessoas que apresentam autismo se baseia no condicionamento do comportamento, para eliminar comportamentos indesejados e reforçar os desejados, se baseando em reforços positivos e negativos.



Referências:
BOSA, C.; CALLIAS, M. Autismo: breve revisão de diferentes abordagens, 1999. Disponível em:<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/veiculos_de_comunicacao/PRC/VOL13N1/17.PDF>. Acessado em: Fevereiro de 2014.

MENTE & CÉREBRO. A teoria da mente, 2013. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/a_teoria_da_mente.html>. Acessado em: fevereiro de 2014.

PSICANÁLISE, AUTISMO E SAÚDE PÚBLICA. Conhecendo outras abordagens no tratamento do autismo, 2013. Disponível em: <http://psicanaliseautismoesaudepublica.wordpress.com/2013/04/12/conhecendo-outras-abordagens-no-tratamento-do-autismo/>. Acessado em: Fevereiro de 2014.


Um comentário:

  1. Gostei bastante deste post e tb com ele vcs conseguem se aproximar dos estudantes e praticantes na área psi! Ótimo!

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