“Adam”
é um filme de 2009 que retrata a história de um portador da Síndrome de
Asperger, (interpretado por Hugh Dancy) que acaba de perder o pai.
Paralelamente, ele começa a desenvolver um relacionamento com sua vizinha, Beth
(Rose Byrne) e junto com ela, nós os espectadores também aprendemos um pouco
mais sobre a síndrome.
O
filme trata o Asperger de forma até bem didática, pois o próprio Adam tem
consciência de que possui a Síndrome, e explica em diversos momentos do filme
como a sua percepção do mundo é diferente das outras pessoas. De acordo com
Nicolau, a Síndrome de Asperger faz parte do espectro autista e é caracterizada
por déficits de interação social e padrões de comportamento restritos e
estereotipados, porém não há atrasos significativos na linguagem e no desenvolvimento
cognitivo dos portadores.
No entanto, mesmo não apresentando
deficiências estruturais na linguagem, as pessoas com Asperger podem por vezes
ter uma compreensão verbal muito concreta, ou seja, elas demonstram
dificuldades nos significados literais e implícitos, na prosódia (ou seja, a
entonação), na manutenção de diálogos, no entendimento de trocadilhos, entre
outros. As dificuldades dessas pessoas estão relacionadas, segundo Roballo
(2001), a linguagem que se denomina pragmática e social, como pode ser visto em
alguns diálogos no filme “Adam”:
Beth:
“Como vai a procura por trabalho?”
Adam:
“Muitos já foram ocupados. Ainda estou recebendo respostas”
Beth:
"Tenho certeza de que vai achar o emprego certo”
Adam:
“Como pode ter certeza disso”?
Beth:
“Quer dizer, espero que ache o emprego certo”.
--------------
Adam
(em uma festa): “Comprar um telescópio é uma decisão complicada. Deve focar
em seus interesses”
Mulher:
“Sem trocadilhos”
Adam:
“O quê”?
Mulher:
“Foco”?
Adam:
“Ah, certo”.
“As pessoas com
Síndrome de Asperger geralmente têm elevadas habilidades cognitivas - pelo menos
Q.I. normal, às vezes indo até às faixas mais altas (TEIXEIRA,
p.02). No entanto, mesmo com boas
condições intelectuais, é possível perceber uma grande dificuldade em
interpretar e aprender as capacidades da interação social e emocional com os
outros. Também há dificuldade em atribuir estados intencionais e predizer o comportamento das pessoas.
Uma das teorias da psicologia que se preocupa com a explicação desses fenômenos é a teoria da mente. Esta teoria observa que as pessoas possuem uma capacidade de inferir sobre os próprios estados mentais e os das outras pessoas. No caso do autismo, ocorre um déficit nessa capacidade, e de acordo com estudos citados por Almeida (2010), utilizando neuroimagem funcional, o córtex frontal parece estar relacionado a esta habilidade. Outros estudos também apontam a participação de neurônios-espelho nesse funcionamento cognitivo, pois eles permitem “não apenas a compreensão direta das ações dos outros, mas também das suas intenções, o significado social de seu comportamento e das suas emoções” (LAMEIRA, GAWRYSZEWSK E JUNIOR, 2006).
Uma das teorias da psicologia que se preocupa com a explicação desses fenômenos é a teoria da mente. Esta teoria observa que as pessoas possuem uma capacidade de inferir sobre os próprios estados mentais e os das outras pessoas. No caso do autismo, ocorre um déficit nessa capacidade, e de acordo com estudos citados por Almeida (2010), utilizando neuroimagem funcional, o córtex frontal parece estar relacionado a esta habilidade. Outros estudos também apontam a participação de neurônios-espelho nesse funcionamento cognitivo, pois eles permitem “não apenas a compreensão direta das ações dos outros, mas também das suas intenções, o significado social de seu comportamento e das suas emoções” (LAMEIRA, GAWRYSZEWSK E JUNIOR, 2006).
Por causa desse
déficit, pode-se perceber nos autistas certa falta de capacidade de “atribuir
estados mentais — desejos, crenças, emoções, intenções, sentimentos, atitudes,
pontos de vista — a outros e a si mesmos, e de perceber e predizer
comportamentos relativamente a esses mesmos estados” (PACHECO, 2012).
Adam comenta
durante o filme que possui “cegueira mental” desde criança e por isso não
consegue entender o ponto de vista e os sentimentos das outras pessoas. Quando ficou
mais velho, teve que aprender a perguntar o que os outros estão pensando para
melhor compreendê-los.
De acordo com
Furtado (2009), é possível aprender a interpretar expressões não-verbais, emoções e interações sociais pelas pessoas que
possuem a Síndrome de Asperger e isso melhora suas interações sociais e
aproximações com os outros. Em uma das primeiras cenas do filme,
Beth passa por Adam carregando um carrinho de compras pesado e nota-se a falta
de capacidade de Adam de perceber que ela estava precisando de ajuda. Isso é
superado ao longo do filme, quando em uma das últimas cenas, ele ajuda uma
mulher a carregar suas coisas, sem que ela pedisse seu auxílio.
Uma das características
da Síndrome de Asperger de acordo com Teixeira é:
A sua peculiar
idiossincrática área de “interesse especial”. Quando as crianças entram para a
escola, ou mesmo antes, elas mostrarão interesse obsessivo numa determinada
área como a matemática, aspectos de ciência, leitura (alguns têm histórico de
hipelexia – leitura rotineira em idade precoce) ou algum aspecto de história ou
geografia, querendo aprender tudo quanto for possível sobre o objecto e
tendendo a insistir nisso em conversas e jogos livres (p.06).
Adam tem um particular
interesse em temáticas relativas ao espaço, sendo este um dos assuntos mais
falados por ele durante o filme. Ele tem inclusive uma roupa de astronauta e um
planetário dentro de sua casa, além de muito conhecimento sobre o tema, o que o
leva a trabalhar em um observatório.
De
acordo com estudos, se comparados a outras formas de autismo, as crianças com o
Asperger são mais aptas a crescer e serem mais independentes quanto a família,
casamento, emprego, entre outros. “Os
adultos tornam-se muito talentosos em suas áreas de interesse, e podem assim
até ocupá-los na área de sua profissão” (FURTADO, 2009, p.34).
Trailer do filme:
Título Original: Adam
Direção: Max Myer
Ano: 2009
Duração: 99 minutos
Origem: Estados Unidos
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. Avaliação
neuropsicológica de crianças e adolescentes com Autismo e outros Transtornos
Invasivos do Desenvolvimento, 2010. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/36999/000788262.pdf?sequence=1>
Acessado
em: 2013
FURTADO, S. R. M. M. Síndrome
de Asperger: perspectivas no desenvolvimento. Disponível em: <http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000041/000041D3.pdf>
Acessado em: 2013.
LAMEIRA,
A.P; GAWRYSZEWSK, L. G; JUNIOR, A. P. Neurônios
Espelho, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v17n4/v17n4a07.pdf>
Acessado em: 2013.
NICOLAU, P. F. M. Psiquiatria
geral. Disponível em: <http://www.psiquiatriageral.com.br/dsm4/sub_index.htm>
Acessado em: 2013.
PACHECO, A. F. Teorias
Neuropsicológicas: Relação com a Comunicação e a Linguagem no Autismo, 2012.
Disponível em: <http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3818/1/%28Pacheco%2c%20AF%29%20Teorias%20neuropsicol%C3%B3gicas%20-%20Rela%C3%A7%C3%A3o%20com%20a%20comu.pdf>
Acessado em: 2013.
ROBALLO, S. O
outro lado da síndrome de Asperger, 2001. Disponível em: <http://www.ucb.br/sites/100/165/TeseseDissertacoes/OoutroladodasindromedeAsperger.pdf>
Acessado em: 2013.
TEIXEIRA, P. Síndrome
de Asperger. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0254.pdf>
Acessado em: 2013.
Muito bom trazer novas discussões e links de filmes para o blog. Questão: "faz parte do espectro autista", quer dizer que o portador desta síndrome é tb um autista? Pensei tb que poderia ser bom fazer a especificação do filme, com diretor, ano, duração, nos padrões comumente feitos para a sinopse técnica.
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