Aqui no blog, fizemos uma publicação sobre as possíveis
causas que podem estar associadas ao autismo. Contudo, ainda
hoje parece não haver um consenso em relação aos fatores ligados ao
desenvolvimento do transtorno. Até mesmo dentro da própria psicologia, as
origens etiológicas do autismo são compreendidas através de diversos olhares.
Neste sentido, nessa publicação iremos abordar como o autismo é visto em
diferentes abordagens da psicologia.
Teoria
Psicanalítica:
De
acordo com Bosa e Callias (1999) “a preocupação da maioria dos psicanalistas
tem sido mais a de descrever o funcionamento mental, os estados afetivos e o
modo como essas crianças se relacionam com as pessoas do que com questões
etiológicas” (p.3).
Dentro
da abordagem psicanalítica há diferentes postulados e pressupostos que procuram
explicar o autismo. Para Melanie Klein, pioneira no tratamento da psicose
infantil, “o autismo era explicado em termos de inibição do desenvolvimento,
cuja angústia decorria do intenso conflito entre instinto de vida e de morte
[...]. O bloqueio da relação com a realidade e do desenvolvimento da fantasia,
que culminaria com um déficit na capacidade de simbolizar, seria então, central
à síndrome” (BOSA E CALLIAS, 1999, p.4).
Margaret Mahler, psiquiatra e psicanalista americana,
também trouxe contribuições para o estudo das psicoses infantis. Segundo Bosa e
Calias (1999):
Mahler
desenvolveu suas ideias sobre os autismos infantis a partir de sua teoria
evolutiva, explicando o autismo como sendo um subgrupo das psicoses infantis e
uma regressão ou fixação a uma fase inicial do desenvolvimento de
não-diferenciação perceptiva, na qual os sintomas que mais se destacam são as
dificuldades em integrar sensações vindas do mundo externo e interno, e em
perceber a mãe na qualidade de representante do mundo exterior (p.5).
Dentro dessa perspectiva, o autismo foi compreendido como
uma reação da criança à rejeição materna, uma cisão do ego resultando em uma
desorganização dos processos adaptativos e integrativos, uma consequência de
uma falta de manifestações espontâneas de sentimentos por parte das mães, uma
ausência da fronteira psíquica originada na dificuldade de diferenciar o
inanimado e o animado, entro outras (BOSA E CALLIAS, 1999). Assim, nessa
perspectiva:
Concebe-se
a criança autista como vivendo em um estado mental caracterizado por
insuficiente diferenciação entre estímulos vindos de dentro ou de fora do corpo
e incapacidade para construir representações emocionais. Dessa forma, todo
estímulo (social e não-social) seria experienciado como sendo fragmentado,
impedindo a possibilidade de formação de uma experiência contínua, seja quando
só ou na presença de outros (BOSA E CALLIAS, 1999, p.4).
Teorias
Neuropsicológicas e de Processamento da Informação:
Hermelin e O’Connor
foram os pioneiros (e inspiraram diversos trabalhos) na testagem de como as
crianças que possuem autismo processavam informações sensoriais em situações de
testes de habilidades motoras e de memória.
Eles
concluíram que essas crianças mostravam déficits cognitivos específicos, tais
como: problemas na percepção de ordem e significado, os quais não poderiam ser
explicados por deficiência mental; dificuldades em usar input sensorial interno
para fazer discriminações na ausência de feedback de respostas motoras; e
tendência a armazenar a informação visual, utilizando um código visual,
enquanto as crianças com desenvolvimento normal usavam códigos verbais e/ou
auditivos. Particularmente surpreendentes foram as respostas dessas crianças
aos estímulos auditivos - a intensa resposta fisiológica a sons contrastava com
a passividade geralmente demonstrada por essas crianças em situações envolvendo
tais estímulos (BOSA E CALLIAS, 1999, p.14).
Teoria
da Mente:
Uma
das propostas de explicação para o autismo é a de que esses indivíduos teriam
prejuízos na habilidade de desenvolver uma teoria da mente. “Teoria da mente
significa a capacidade para atribuir estados mentais a outras pessoas e
predizer o comportamento das mesmas em função destas atribuições” (BOSA E CALLIAS,
1999, p.10).
Essa hipótese que tenta entender o autismo a partir do
ponto de vista psicológico foi desenvolvida pelos pesquisadores Uta Frith, do Instituto de Neurociência Cognitiva da
Universidade College de Londres, e Simon Baron-Cohen.
Segundo essa tese, a principal anormalidade do autismo é a
incapacidade de construir elaborações sobre a mente alheia. Existe no cérebro
um circuito neuronal especializado que nos permite pensar sobre nós mesmos e
sobre o outro – e assim criar formulações sofisticadas, prevendo o
comportamento de seus semelhantes. Essa compreensão oferece respaldo à
capacidade de cooperar e aprender com o próximo. Em suma, possibilita a
interação social. A maioria das pessoas autistas, no entanto, não compreendem
que cada um tem os próprios pensamentos e pontos de vista e um modo único de
ser. Consequentemente, elas não entendem crenças, emoções e atitudes alheias
(MENTE & CERÉBRO, 2013).
A Teoria Comportamental:
A teoria comportamental tem como objetivo intervir nos
comportamentos disfuncionais, para controla-los e modifica-los ou instalar
comportamentos desejados. Duas propostas de tratamento derivadas dessa
abordagem, ABA e TEACH (já comentadas aqui no blog), são amplamente usadas no tratamento do
autismo. Segundo o blog Psicanálise,autismo e saúde pública (2013), essas propostas terapêuticas tem como
objetivo:
a) a promoção de um desenvolvimento normal dos aspectos
cognitivo, linguístico e social; b) a promoção da aprendizagem; c) a redução da
rigidez e da estereotipia; d) a eliminação dos comportamentos desadaptados
inespecíficos; e) o alívio do sofrimento familiar e f) a educação e a
conscientização da comunidade para a aceitação do indivíduo.
Ainda segundo esse blog, essa
abordagem propõe um método baseado nas leis que governam o comportamento.
Assim, suas propostas
Entendem que os comportamentos são operantes, ou seja, quando
um indivíduo se comporta, esse comportamento opera sobre o ambiente, promovendo
uma resposta do ambiente que funciona como reforçador positivo ou negativo para
esse comportamento. Assim, os reforçadores ocupam um lugar primordial nesse
tipo de atendimento (PSICANÁLISE, AUTISMO E SAÚDE
PÚBLICA, 2013).
A
terapia comportamental com pessoas que apresentam autismo se baseia no
condicionamento do comportamento, para eliminar comportamentos indesejados e
reforçar os desejados, se baseando em reforços positivos e negativos.
Referências:
BOSA, C.; CALLIAS, M. Autismo: breve revisão de diferentes abordagens, 1999. Disponível
em:<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/veiculos_de_comunicacao/PRC/VOL13N1/17.PDF>.
Acessado em: Fevereiro de 2014.
MENTE & CÉREBRO. A
teoria da mente, 2013. Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/a_teoria_da_mente.html>.
Acessado em: fevereiro de 2014.
PSICANÁLISE, AUTISMO E SAÚDE
PÚBLICA. Conhecendo outras abordagens no tratamento do autismo,
2013. Disponível em: <http://psicanaliseautismoesaudepublica.wordpress.com/2013/04/12/conhecendo-outras-abordagens-no-tratamento-do-autismo/>.
Acessado em: Fevereiro de 2014.
Gostei bastante deste post e tb com ele vcs conseguem se aproximar dos estudantes e praticantes na área psi! Ótimo!
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