Mídias como desmistificação:
Uma boa ideia, coragem e interação no Brasil
Em Curitiba, na escola municipal Padre Carmelo Perrone , essas palavras são postas
em prática. O professor Edson Gavazzoni, desenvolveu um projeto para criar uma
Rádio na escola que levou jovens a descobrirem novas profissões e superar limitações.
Um aluno em especial, Lucas, portador do Transtorno do Espectro
Autista (TEA), conquistou certa independência, admiração e respeito dos colegas,
professores e familiares, por seu destaque acima da média na locução de um
programa da Rádio. Um dos colegas da rádio comenta: “Eu acho que o nosso
prodígio (o Lucas), dos narradores não tem como dizer que ele não é o melhor (...)
voz insuperável aqui no colégio”.
A rádio trouxe outras contribuições para o
desenvolvimento de Lucas, como o ganho de maior independência: hoje, Lucas faz
o caminho de casa para a escola sozinho, ao contrário de antes quando ele
precisava ser acompanhado, relata sua mãe. A matéria de TV completa sobre a criação da
rádio pode ser vista aqui.
A ideia de que pessoas portadoras do TEA não conseguem avançar
em seu desenvolvimento faz parte do passado. Quanto mais cedo o diagnóstico do
TEA for realizado, maiores são as possibilidades dos indivíduos desenvolverem
suas capacidades e conquistarem maior autonomia.
Susan Boyle, cantora escocesa de 52 anos, assumiu
publicamente que é portadora da Síndrome de Asperger, uma forma do TEA. A cantora conta como foi difícil ser diagnosticada erroneamente na infância e da coragem de,
hoje com o diagnóstico correto, enfrentar os desafios desta condição, realidade
esta que não a impediu de emocionar a todos com sua belíssima voz em um reality show de calourosbritânico “Britain’s Got Talent”.
Em uma entrevista para a Folha de São Paulo, o psiquiatra Estevão
Vadasz, coordenador do programa de transtornos do espectro autista do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que: “o TEA atinge
estimados 2 milhões de brasileiros - uma população três vezes maior do que a
portadora de Síndrome de Down. Contudo, os autistas no Brasil são invisíveis. A
população não sabe o que é, a maioria dos profissionais não sabe do que se
trata” (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013).
A mídia, em especial a televisão, é um canal de contato
com grande parte da população, interferindo de forma marcante na opinião do
público sobre os mais diversos assuntos. Além disso, a mídia pode influenciar a
formação de estereótipos e fortalecer as desigualdades (GOMES, 2001). Dessa
forma, a criação de imagens irrealistas sobre os transtornos do espectro autista
pela televisão pode aumentar as práticas de intolerância e preconceito.
Nos comentários realizados por Jungman de Castro (1999)
sobre as relações entre discurso, poder e ideologia difundidas por Norman
Fairclough, o autor afirma que o discurso da mídia tende a ser uma produção
massificante e homogeneizante:
Na impossibilidade de se adaptar aos
diversos setores da sociedade, os meios de comunicação normalmente se dirigem a
um ‘sujeito ideial’... um sujeito idealizado e estereotipado, criando um
círculo vicioso que, atendendo apenas a interesses comerciais, presta um enorme
desserviço à educação, à cultura e à cidadania (p.5).
Um exemplo desse tipo de imagem estereotipada sobre o
autismo apareceu em um dos programas de comédia da MTV que abordou o tema de
forma muito negativa e desumana, acarretando uma série de problemas. A fim de
retratar-se, a emissora exibiu um documentário sobre
os autistas e a vida de seus familiares.
Por outro lado, se for usada da
melhor forma, a mídia pode ajudar inúmeras pessoas a conhecerem e lidarem
melhor com o TEA; orientando portadores e familiares, ajudando também a acabar
com mitos e preconceitos que envolvem este transtorno do desenvolvimento. Um
exemplo disso foi à série de reportagens exibidas no Fantástico, conduzidas
pelo Doutor Dráuzio Varela sobre o autismo.
Ainda hoje há muitos estigmas que precisam ser superados
em relação aos transtornos do espectro autista. A mídia de forma geral pode ser
um meio tanto para a propagação de ideias errôneas sobre diferentes temáticas,
como uma maneira útil de transmitir informações de forma acessível a toda à
população, contribuindo para o entendimento mais claro acerca do transtorno e
ajudando a acabar com o preconceito.
Referências:
Biderman, I. Dois milhões de brasileiros afetados
pelo autismo ganham proteção da lei. Folha
de São Paulo, 15 de jan. de 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/01/1214573-dois-milhoes-de-brasileiros-afetados-pelo-autismo-ganham-protecao-da-lei.shtml>.
Acessado em: Fevereiro de 2014.
GOMES, P. B. M. B.
Mídia, imaginário de consumo e educação. Educação
& Sociedade, ano 22, n. 74, abril. 2001.
JUNGMANN DE CASTRO,
R. Comentário sobre relações entre
discurso, poder e ideologia em Langue and
Power, de Norman Fairclough. Recife: UFPE, 1999.
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