28 de janeiro de 2014

Autismo e educação inclusiva

Uma publicação recente do jornal online “O tempo”  de Belo Horizonte trouxe a tona denúncias acerca da não aceitação de crianças autistas em escola particulares. Segundo a reportagem, só no mês da publicação (dezembro de 2013), houve dez denúncias à Associação dos Amigos do Autista de Minas Gerais (AMA) contra escolas particulares que se recusaram a receber crianças com autismo, a maioria com a desculpa de que não se encontrava preparada para lidar com as necessidades dessas crianças.
O fato é que não só as crianças com autismo, mas também aquelas com qualquer tipo de deficiência são vítimas do preconceito, principalmente no ambiente escolar. “A exclusão deste grupo social – as pessoas com deficiência – tem início desde a infância. Ainda hoje muitas crianças não frequentam escolas regulares e muitas daquelas que estão matriculadas enfrentam diversas barreiras diárias” (MATTOS & NUERNBERG, 2011, p.131). Vale lembrar que isso não só ocorre em escolas particulares, mas nas públicas também.
Diante disso, tornam-se necessárias medidas que garantam os direitos das crianças com deficiências e transtornos que afetem seu desenvolvimento e/ou aprendizagem de frequentarem a escola, como fiscalização do cumprimento das leis que já existem ou com a criação novas leis que protejam essas crianças da exclusão. Segundo Mattos e Nuernberg (2009) o processo de inclusão visa alcançar “uma ampliação nas possibilidades de participação das pessoas com deficiência ao convívio social, sem segregá-las em instituições especiais, mas contribuindo para legitimá-las como cidadãos” (p.139).
Para crianças com autismo, a educação inclusiva pode trazer inúmeros benefícios tanto para a aquisição da linguagem como para a melhora das dificuldades interação social. Referindo-se a esse último aspecto, Camargo e Bosa (2009) afirmam:

Proporcionar às crianças com autismo oportunidades de conviver com outras da mesma faixa etária possibilita o estímulo às suas capacidades interativas, impedindo o isolamento contínuo. Além disso, subjacente ao conceito de competência social está a noção de que as habilidades sociais são passíveis de serem adquiridas pelas trocas que acontecem no processo de aprendizagem social (p. 68).

      Além disso, a educação inclusiva pode propiciar a crianças com autismo não-verbal a possibilidade de aprender uma forma alternativa de comunicação, como defende Mattos e Nuernberg (2011): “As práticas inclusivas podem promover o desenvolvimento de linguagens alternativas em crianças com características diversas, sugerindo várias maneiras em que os pares possam interagir” (p.133).
É importante destacar que as necessidades dos portadores de autismo diferem de indivíduo para indivíduo. O plano de atendimento a crianças com autismo deve ser estruturado de acordo com as particularidades do desenvolvimento de cada uma. Por exemplo, em crianças pequenas as prioridades devem ser a fala, a interação social/linguagem e a educação, entre outros, que podem ser considerados ferramentas importantes para promoção da inclusão da criança com autismo” (FARIAS, MARANHÃO & CUNHA, 2008).
Tendo em vista tudo o que foi apresentado, pode-se concluir que a educação inclusiva traz inúmeros benefícios para crianças portadoras de autismo, sendo importante no desenvolvimento de suas habilidades sociais e comunicativas. No entanto, ainda é preciso garantir que o direito dessas crianças à educação seja cumprido.
É lutando por esse direito que algumas pessoas e instituições começaram a fazer a diferença na educação de crianças e jovens com autismo. É o caso da pedagoga Regina Angeiras que após enfrentar dificuldades em encontrar uma escola para o seu neto portador do autismo, decidiu criar uma escola que atendesse a toda e qualquer criança.
A escola fundada por Regina chama-se Divertivendo, fica na zona sul do Rio de Janeiro e atende crianças com e sem dificuldades ou transtornos. As turmas são reduzidas (em média, oito crianças por turma) para que o professor possa dar a atenção necessária para cada aluno. A escola conta com turmas da educação infantil e Ensino Fundamental I. Entre as crianças atendidas, várias possuem autismo.

Para mais informações:

            
Não é apenas em instituições especializadas que se pode fazer a diferença. Professores de qualquer escola podem ajudar crianças e adolescentes com autismo se começarem a entender suas necessidades. Um exemplo disso pode ser visto no vídeo abaixo que conta a história de Matheus, um menino de 14 anos que estuda em uma turma regular de uma escola pública de São Paulo:



Além disso, é importante destacar que essas medidas de inclusão não devem ser adotadas apenas para a educação infantil, a educação deve ser inclusiva em todas as etapas de ensino, incluindo o ensino médio e o universitário. Apesar de reconhecermos e acreditarmos na importância dessas medidas nas demais etapas da educação, as pesquisas realizadas para a construção desse blog não encontraram maiores informações sobre as especificidades da educação inclusiva para indivíduos portadores de autismo no ensino médio e superior.

Referências:
CAMARGO, S. P. H.; BOSA, C. A. Competência social, inclusão escolar e autismo: revisão crítica da literatura. Psicologia & Sociedade, v. 21, n. 1, p. 65-74, 2009

FARIAS, I. M.; MARANHÃO, R. V. de A.; CUNHA, A. C. B. de. Interação professor-aluno com autismo no contexto da educação inclusiva: análise do padrão de mediação do professor com base na teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (Mediated Learning Experience Theory). Revista Brasileira de Educação Especial, v.14 n.3, Set./Dec. 2008. 

MATTOS, L. K., NUERNBERG, A. H. Reflexões sobre a inclusão escolar de uma criança com diagnóstico de autismo na educação infantil. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 24, n. 39, p. 129-142, jan./abr. 2011.


Um comentário:

  1. Para quem se interessar pelo tema, irá ocorrer no dia 15/02/14 na UFPE, um curso sobre autismo na escola. Para mais informações:

    Inscrições: (81) 9105-9442 / (81) 8609-0237 / inscricoesamagetid@hotmail.com

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