Uma publicação recente do jornal online “O tempo” de
Belo Horizonte trouxe a tona denúncias acerca da não aceitação de crianças
autistas em escola particulares. Segundo a reportagem, só no mês da publicação
(dezembro de 2013), houve dez denúncias à Associação
dos Amigos do Autista de Minas Gerais (AMA) contra escolas particulares
que se recusaram a receber crianças com autismo, a maioria com a desculpa de
que não se encontrava preparada para lidar com as necessidades dessas crianças.
O fato é que não só as crianças com autismo, mas também
aquelas com qualquer tipo de deficiência são vítimas do preconceito,
principalmente no ambiente escolar. “A exclusão deste grupo social – as pessoas
com deficiência – tem início desde a infância. Ainda hoje muitas crianças não
frequentam escolas regulares e muitas daquelas que estão matriculadas enfrentam
diversas barreiras diárias” (MATTOS & NUERNBERG, 2011, p.131). Vale lembrar
que isso não só ocorre em escolas particulares, mas nas públicas também.
Diante disso, tornam-se necessárias
medidas que garantam os direitos das crianças com deficiências e transtornos
que afetem seu desenvolvimento e/ou aprendizagem de frequentarem a escola, como
fiscalização do cumprimento das leis que já existem ou com a criação novas leis
que protejam essas crianças da exclusão. Segundo Mattos e Nuernberg (2009) o
processo de inclusão visa alcançar “uma ampliação nas possibilidades de
participação das pessoas com deficiência ao convívio social, sem segregá-las em
instituições especiais, mas contribuindo para legitimá-las como cidadãos”
(p.139).
Para crianças com autismo, a
educação inclusiva pode trazer inúmeros benefícios tanto para a aquisição da
linguagem como para a melhora das dificuldades interação social. Referindo-se a
esse último aspecto, Camargo e Bosa (2009) afirmam:
Proporcionar às crianças com autismo oportunidades de
conviver com outras da mesma faixa etária possibilita o estímulo às suas
capacidades interativas, impedindo o isolamento contínuo. Além disso,
subjacente ao conceito de competência social está a noção de que as habilidades
sociais são passíveis de serem adquiridas pelas trocas que acontecem no
processo de aprendizagem social (p. 68).
Além disso, a educação inclusiva
pode propiciar a crianças com autismo não-verbal a possibilidade de aprender
uma forma alternativa de comunicação, como defende Mattos e Nuernberg (2011):
“As práticas inclusivas podem promover o desenvolvimento de linguagens
alternativas em crianças com características diversas, sugerindo várias
maneiras em que os pares possam interagir” (p.133).
É importante destacar que
as necessidades dos portadores de autismo diferem de indivíduo para indivíduo.
O plano
de atendimento a crianças com autismo deve ser estruturado de acordo com
as particularidades do desenvolvimento de cada uma. “Por exemplo, em crianças pequenas as
prioridades devem ser a fala, a interação social/linguagem e a educação, entre
outros, que podem ser considerados ferramentas importantes para promoção da
inclusão da criança com autismo” (FARIAS, MARANHÃO & CUNHA, 2008).
Tendo em vista tudo o que foi apresentado, pode-se
concluir que a educação inclusiva traz inúmeros benefícios para crianças
portadoras de autismo, sendo importante no desenvolvimento de suas habilidades
sociais e comunicativas. No entanto, ainda é preciso garantir que o direito
dessas crianças à educação seja cumprido.
É lutando por esse direito que algumas pessoas e
instituições começaram a fazer a diferença na educação de crianças e jovens com
autismo. É o caso da pedagoga Regina Angeiras
que após enfrentar dificuldades em encontrar uma escola para o seu neto
portador do autismo, decidiu criar uma escola que atendesse a toda e qualquer
criança.
A escola fundada por Regina chama-se
Divertivendo, fica na zona sul do Rio de Janeiro e atende crianças com e sem
dificuldades ou transtornos. As turmas são reduzidas (em média, oito crianças
por turma) para que o professor possa dar a atenção necessária para cada aluno.
A escola conta com turmas da educação infantil e Ensino Fundamental I. Entre as
crianças atendidas, várias possuem autismo.
Para mais informações:
Não é apenas em instituições especializadas que se pode
fazer a diferença. Professores de qualquer escola podem ajudar crianças e
adolescentes com autismo se começarem a entender suas necessidades. Um exemplo
disso pode ser visto no vídeo abaixo que conta a história de Matheus, um menino
de 14 anos que estuda em uma turma regular de uma escola pública de São Paulo:
Além disso, é importante destacar que essas medidas de
inclusão não devem ser adotadas apenas para a educação infantil, a educação
deve ser inclusiva em todas as etapas de ensino, incluindo o ensino médio e o
universitário. Apesar de reconhecermos e acreditarmos na importância dessas
medidas nas demais etapas da educação, as pesquisas realizadas para a
construção desse blog não encontraram maiores informações sobre as
especificidades da educação inclusiva para indivíduos portadores de autismo no
ensino médio e superior.
Referências:
CAMARGO,
S. P. H.; BOSA, C. A. Competência social, inclusão escolar e autismo: revisão
crítica da literatura. Psicologia &
Sociedade, v. 21, n. 1, p. 65-74, 2009
FARIAS, I.
M.; MARANHÃO, R. V. de A.; CUNHA, A. C. B. de. Interação professor-aluno com
autismo no contexto da educação inclusiva: análise do padrão de mediação do
professor com base na teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (Mediated
Learning Experience Theory). Revista Brasileira de Educação
Especial, v.14 n.3,
Set./Dec. 2008.
MATTOS,
L. K., NUERNBERG, A. H. Reflexões sobre a inclusão escolar de uma criança com
diagnóstico de autismo na educação infantil. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 24, n. 39, p. 129-142,
jan./abr. 2011.
Para quem se interessar pelo tema, irá ocorrer no dia 15/02/14 na UFPE, um curso sobre autismo na escola. Para mais informações:
ResponderExcluirInscrições: (81) 9105-9442 / (81) 8609-0237 / inscricoesamagetid@hotmail.com